Fora do Roteiro: GTA VI e a Tirania das Datas de Estreia


A notícia de que Grand Theft Auto VI foi adiado para 2026 caiu como uma bomba no mercado dos games. Isso resultou em fãs indignados nas redes sociais e ações da Tale-Two Interactive, produtora do jogo, caindo em 10%. Contudo, o que pode ser visto como tragédia chega mais como alívio. A Rockstar Games, dona de uma das franquias mais lucrativas da história dos games, insiste em um mantra raro na indústria: a perfeição exige tempo. Por isso, os fãs deveriam se perguntar se, em vez de protestar, não deveriam aplaudir. Assim como um romance não nasce em uma semana ou um filme não se faz em um mês, um jogo ambicioso como GTA VI não pode ser forçado a caber em um calendário corporativo. A pressa, afinal, é inimiga da grandiosidade. 

O cinema, por exemplo, sofre com a tirania das datas de estreia. Franquias são espremidas em cronogramas impossíveis, roteiros são escritos às pressa e o resultado são obras genéricas e esquecíveis. Quentin Tarantino, que leva anos entre um filme e outro, já disse: "Se você quer fazer algo memorável, não pode ter medo de esperar.". A Rockstar parece pensar da mesma forma. Se Red Dead Redemption 2 levou quase uma década para ser feito, mas resultou em uma obra-prima, por que GTA VI deveria seguir um caminho diferente? 

A arte não é um produto como qualquer outro. Ela não se encaixa em linhas de produção, nem obedece a planilhas de Excel. O processo criativo é orgânico, caótico e imprevisível. Ele pode nascer em um estalo de genialidade ou exigir anos de tentativas e erros. Grandes narrativas não surgem do nada. Exigem paciência, risco e, acima de tudo, liberdade. Se há algo que a Rockstar ensina para quem trabalha e aprecia construção narrativa, é que a excelência não negocia com o relógio. 

Em uma era de consumo descartável, a resistência da Rockstar em não ceder à pressão é um exemplo. Enquanto outras produtoras inundam o mercado com produtos mal-acabados, o estúdio prefere o silêncio e o trabalho minucioso. É uma postura que remete aos tempos em que a indústria cultural não era refém do hype.

Portanto, em vez de contarem os dias no calendário, os fãs deveriam celebrar cada adiamento. Por trás dele, está a recusa em entregar algo medíocre. Se o preço a pagar por um jogo à altura do legado da franquia é a espera, então que se espere. A arte não é uma corrida. No fim, só os trabalhos feitos sem concessões é que sobrevivem ao tempo.

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