Crítica: Sociedade dos Poetas Mortos, a melancólica liberdade de ser quem é
Avaliação: ★★★★½
Na transição do segundo para o terceiro ato de Sociedade dos Poetas Mortos, o personagem Neil busca o Professor Keating para receber um conselho. Ao encontrá-lo, repara como o homem vive sozinho em um cubículo, somente com seus livros e música. Questionado, Keating diz que esse é o preço pessoal para ensinar e que não está ali por necessidade, mas porque ama.
Este é um momento chave, em que o filme revela seu verdadeiro tom, o melancólico. Inspiradora e muito cativante até esta cena, a obra destaca, a partir daí, como não há nada de romântico na busca da voz interna, ou do "livre pensamento", como Keating explica para o diretor. Descobrir o que realmente somos resulta em revelar para o entorno uma nova pessoa que, talvez, não esteja alinhada com aquele ambiente.
De forma praticamente juvenil, os alunos na história pensam que suas vidas estarão solucionadas quando encontrarem a própria voz e expressarem livremente o que realmente sentem. Ruwanda se sente um anarquista imbatível; Knox pensa que sua crush cairá em seus braços com um poema; e Todd acredita finalmente ter vencido a timidez em público. Mas no terceiro ato o diretor Peter Weir, se nenhum polimento, traz a realidade de volta para o filme.
Perceba como Weir permite que o público sinta o mesmo que os personagens alternando estilos de direção. No início, temos uma proposta rígida e ortodoxa: enquadramentos fixos, ambientes fechados e poucos cortes. Já na segunda parte, o diretor flerta até com um pouco de fantasia: utilizando contraluz, ambientes externos e verdes e um pouco de fumaça e neve para gerar uma sensação de encantamento. No fim, retorna o tom ortodoxo, finalizando a abordagem leve e fantasiosa na peça teatral de Neil.
A conclusão é, não há libertação externa alguma ao finalmente descobrirmos o que somos. Knox se declara e é espancado por um valentão. Neil se vê num beco sem saída pior que do início do filme. E Todd teme as consequências de suas falas. Isso significa que o filme não inspira e ensina? Não. A questão é, assim como Keating sozinho em seu quartinho, esse processo não deve visar uma vitória perante o mundo, que de forma melancólica se mostra imutável, mas para garantir uma segurança interna.
A consequência da busca pela própria voz geralmente é a solidão, porque o cotidiano perde valor. Saber o que realmente somos sequer garante felicidade. Keating não é interpretado pelo brilhante Robin Williams como um homem feliz, mas como alguém que sabia para onde fugir quando as coisas pareciam turbulentas demais do lado de fora. Se descobrir é se refugiar em um quartinho aconchegante e inacessível com todas as coisas que amamos dentro dele.
Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society – EUA, 1989)
Direção: Peter Weir
Roteiro: Tom Schulman
Elenco: Robin Williams, Robert Sean Leonard, Ethan Hawke, Josh Charles, Gale Hansen, Dylan Kussman, Allelon Ruggiero, James Waterston, Norman Lloyd, Kurtwood Smith, Carla Belver, Leon Pownall, George Martin
Duração: 128 min
Comentários
Postar um comentário